quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Mês da Consciência Negra - leituras, reflexões e belezuras literárias (4)


Mês da Consciência Negra - leituras, reflexões e belezuras literárias (4)


Neste mês de novembro/2019, 
em celebração ao Mês da Consciência Negra,
o blog Construindo Pasárgada do PMBFL compartilha 
uma série de postagens publicadas no bom dia do face do Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores.
Trazemos a Literatura, biografia, sites e vídeos 
de Escritoras e Escritores Negras/os
para promover leituras, reflexões e belezuras literárias.
Tentamos priorizar Poetas de Pernambuco.


12.11.2019 (terça-feira)
 


O bom dia do PMBFL é com Carolina Maria de Jesus. Mineira de Sacramento nasceu em 14.04.1914. De origem muito humilde era neta de escravos e filha de uma lavadeira. Cursou as duas séries iniciais e sempre ávida de conhecimentos. Migrou para São Paulo, em 1947, por conta de “sua rebeldia natural fazia com que não se adaptasse ao trabalho de empregada doméstica. No ano seguinte, engravidou de um português, que a abandonou. Na época, ninguém dava emprego para mãe solteira e Carolina foi morar na rua. Foi então que chegou à favela do Canindé: o governador paulista (da época) mandara recolher todos os mendigos pelas ruas e despejá-los num grande terreno à margem esquerda do rio Tietê.” Catadora de papel, criou seus três filhos com a venda dos produtos coletados no lixo. Fazendo uso da escrita em cadernos, “vou por no meu caderno...” Foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que organizou seu diário no livro Quarto de Despejo publicado em 1960, verdadeiro best-seller à época. Traduzido em mais de 16 idiomas e distribuído em mais de 49 países. Sua história de vida virou filme, com a interpretação da atriz Ruth de Souza. Teve outros livros publicados, sem o sucesso do Quarto de Despejo. Foi preterida pelo cânone literário nacional e esquecida pelo mercado editorial.  Faleceu em São Paulo no dia 13.02.1977, aos 63 anos.

Obras publicadas:
Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960)
Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada (1961)
Pedaços da fome (1963)
Provérbios (1965)
Diário de Bitita (1986)
Meu estranho diário (1996)
Antologia pessoal (1996)
Onde estaes felicidade? (2014)

(...)

13 de Maio. Hoje amanheceu chovendo. É um dia simpatico para mim. É o dia da Abolição. Dia que comemoramos a libertação dos escravos.
 ...Nas prisões os negros eram os bodes expiatorios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com desprezo. Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz.
 Continua chovendo. E eu tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mesmo assim, mandei os meninos para a escola. Estou escrevendo até passar a chuva, para eu ir lá no senhor Manuel vender os ferros. Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou sair. ...Eu tenho tanto dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer eles brada:
 – Viva a mamãe!
 A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi o hábito de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. Eu mandei o João pedir um pouquinho de gordura a Dona Ida. Ela não tinha. Mandei-lhe um bilhete assim:
 – “Dona Ida peço-te se pode me arranjar um pouco de gordura, para eu fazer uma sopa para os meninos. Hoje choveu e eu não pude catar papel. Agradeço, Carolina”.
 ...Choveu, esfriou. É o inverno que chega. E no inverno a gente come mais. A Vera começou pedir comida. E eu não tinha. Era a reprise do espetaculo. Eu estava com dois cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de farinha para fazer um virado. Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos.
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!
(...) (Quarto de Despejo)

Sites sobre Carolina Maria de Jesus:
 
Vídeos sobre Carolina Maria de Jesus:
 
Crédito das imagens:

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