quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Mês da Consciência Negra - leituras, reflexões e belezuras literárias (1)

Neste mês de novembro/2019, 
em celebração ao Mês da Consciência Negra,
o blog Construindo Pasárgada do PMBFL compartilha 
uma série de postagens publicadas no bom dia do face do Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores.
Trazemos a Literatura, biografia, sites e vídeos 
de Escritoras e Escritores Negras/os
para promover leituras, reflexões e belezuras literárias.
Tentamos priorizar Poetas de Pernambuco.

01.11.2019 (sexta-feira)
Para celebrar o Mês da Consciência Negra, nesta sexta-feira, 1º de novembro, a cidade do Recife abre as comemorações com a 13ª Caminhada dos Terreiros de Pernambuco. O tradicional cortejo das religiões de matriz africana é promovido pela Rede de Articulação Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, com apoio da Prefeitura do Recife.

O Dia 20 de novembro é celebrado como o Dia Nacional da Consciência Negra com o objetivo de refletir sobre a relevância do legado do líder Zumbi, no Quilombo dos Palmares diante de sua atuação política com os demais quilombolas na luta pelo direito de liberdade de culto e religião, como também pelo fim do regime escravocrata no Brasil.

O Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores/as também participa desta festividade com uma das poesias de um dos criadores do dia 20 de novembro, o professor Oliveira Silveira.

ENCONTREI MINHAS ORIGENS
Oliveira Silveira

Encontrei minhas origens
Em velhos arquivos
Livros
Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas
Encontrei minhas origens
No Leste
No mar em imundos tumbeiros
Encontrei
Em doces palavras
Cantos
Em furiosos tambores
Ritos
Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma
Em mim
Em minha gente escura
Em meus heróis altivos
Encontrei
Encontrei-as enfim
Me encontrei

Segue um link com: https://www.geledes.org.br/10-curiosidades-sobre-o-saci-pe…/.


05.11.2019 (terça-feira)
https://www.facebook.com/manuel.bandeira.731/posts/2512559752288838?__tn__=K-R


Em novembro, mês da Consciência Negra, estaremos dando sugestões de escritores e poetas que tratam do tema. Hoje, 
o nosso bom dia é com Solano Trindade.

GRAVATA COLORIDA
Solano Trindade

Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...

Nascido em 24 de julho de 1908 em Recife-PE foi poeta, cineasta, pintor, homem de teatro e um dos maiores animadores culturais brasileiros do seu tempo, o pernambucano Francisco Solano Trindade foi, para vários críticos, o criador da poesia “assumidamente negra” no Brasil.

Filho do sapateiro Manuel Abílio, mestiço de negro com branca, e da quituteira Dona Emerenciana, descendente de negros e indígenas. No Recife, Solano estudou até o segundo grau e chegou a participar, por um ano, do curso de desenho do Liceu de Artes e Ofícios.

Bastante jovem, se apaixonou pela poesia e começou a compor em meados da década de 20. No início da década seguinte, o poeta foi um dos organizadores e idealizadores do I Congresso Afro-Brasileiro, realizado em 1934 na cidade de Recife e liderado por Gilberto Freyre. Também participou em 1937 do segundo congresso Afro-Brasileiro, realizado em Salvador.

No início da década de 40, segue para Belo Horizonte e depois para o Rio Grande do Sul, onde funda um grupo de arte popular em Pelotas. Pouco tempo depois, volta ao Recife, indo fixar residência na cidade do Rio de Janeiro, em 1942. Na então Capital Federal, publicou o seu livro “Poemas de uma Vida Simples” em 1944. Devido a um dos poemas do livro, “Tem Gente com Fome”, foi preso, perseguido e o livro apreendido, embora houvesse, de fato, muita gente passando fome no Brasil. Ainda em 1944, prestigiou o primeiro concerto da Orquestra Afro-Brasileira, do amigo e maestro Abigail Moura e fundou, com Haroldo Costa, o Teatro Folclórico Brasileiro. No ano seguinte, ao lado do amigo Abdias do Nascimento, constituíram o Comitê Democrátrico Afro-brasileiro, que se estabeleceu como o braço político do Teatro Experimental do Negro, liderado por Abdias.

Em 1950 fundou, ao lado de sua esposa Margarida Trindade e do intelectual Édson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro (TPB), grupo com sede na UNE, cujo elenco era formado por operários, domésticas e estudantes e que tinha como temática e inspiração algumas das principais manifestações culturais brasileiras, como o bumba-meu-boi, os caboclinhos, o coco e a capoeira. O grupo adaptava para o teatro números de dança e música da cultura popular afro-brasileira e indígena. Cinco anos mais tarde, o poeta criou o grupo de dança Brasiliana, que realizou, com destaque, inúmeras apresentações no exterior.

Em finais da década de cinquenta, Solano fixou as atividades do Teatro Popular Brasileiro na cidade de São Paulo, na tentativa de aproveitar a intensa vida cultural da cidade. Nessa expectativa, muda-se para a cidade de Embu, localizada na grande São Paulo, onde lança o seu livro “Cantares do Meu Povo”.

Entre 1961 e 1970, Solano viveu em Embu das Artes, transformando o município em um verdadeiro centro cultural, para onde foram diversos artistas que passaram a viver de arte. Na cidade, o TPB viveu a sua melhor fase. As apresentações do grupo eram sempre muito concorridas.

É considerado o grande criador da poesia “assumidamente negra”, segundo muitos críticos.

Trabalhou também como artista plástico, pintando quadros a óleo. Um desses quadros, hoje faz parte do acervo do Museu Afro Brasil.

O artista adoeceu no início da década de 70, sofrendo de pneumonia e arteriosclerose. Foi internado em diversos hospitais, até vir a falecer no Rio de Janeiro, em 20 de fevereiro de 1974.

Atualmente, sua filha Raquel Trindade e seus netos são os responsáveis pela continuidade da sua obra. A família vive em Embu das Artes, onde há um teatro popular com o nome de Solano Trindade, além de uma escola e uma rua que homenageiam o poeta.

No Rio de Janeiro foi criado em 1975 o Centro Cultural Solano Trindade e no ano seguinte, em São Paulo, a Escola de Samba Vai-Vai desfilou pelo sambódromo homenageando a vida desta importante personalidade da nossa cultura.

Em sua 12° edição, a Bienal Internacional do Livro de Pernambuco vem com o tema "Histórias para Resistir", e em sua edição de 2019 homenageou o poeta e ativista pernambucano Solano Trindade (em memória), pioneiro na literatura afro-brasileira e responsável por fundar grupos de valorização da cultura negra e combate ao racismo.

Obra de Solano Trindade:
Poemas d'uma vida simples. 1ª ed., Rio de Janeiro: Edição do autor, 1944.
Seis tempos de poesia. 1ª ed., São Paulo: H. Mello, 1958.
Cantares ao meu povo. 1ª ed., São Paulo: Fulgor, 1961; 2ª ed., aumentada, São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

Infantil
Tem gente com fome. [ilustrações Cíntia Viana e Murilo Silva]. São Paulo: Nova Alexandria. 2008, 24p.

Antologia e seleta
Tem gente com fome e outros poemas: antologia poética. 1ª ed., Rio de Janeiro: DGIO, 1988.
O poeta do povo. [organização Raquel Trindade]. 1ª ed., São Paulo: Cantos e Prantos, 1999.
Canto negro. São Paulo: Nova Alexandria, 2006, 64p.
Poemas antológicos de Solano Trindade. [organização Zenir Campos Reis; ilustrações Adriana Ortiz, Raquel Trindade e Murilo]. São Paulo: Nova Alexandria, 2008, 216p.
Solano Trindade, o poeta do povo. [a edição reúne textos de três obras: 'Poemas d'uma vida simples'; 'Seis tempos de poesia' e 'Cantares do meu povo']. São Paulo: Ediouro, 2008, 160p.

Peça de teatro (manuscritos)
Espetáculo folclórico. Rio de Janeiro, 1952. (mimeo). Acervo do Setor de Manuscritos da Biblioteca Nacional (BN).
Malungo. [em co-autoria com Miécio Tati]. não publicada.
Sambalêlê tá doente. [peça teatral no gênero folclórico musical].. Manuscrito/datilografado, 1964, 30p. Transcrita na dissertação de: MELLO, Maurício de.. O encontro da cultura popular e os meios de comunicação na obra de Solano Trindade - Os Anos em Embu das Artes (1961-1970).. (Dissertação Mestrado em Ciências da Comunicação). Escola de Comunicação e Artes - Universidade de São Paulo, USP, 2009, p. 67-83. Disponível no link. (acessado em 06.05.2015).

Artigos e manifestos*
Folclore e cinema. apresentado no I Congresso de Cinema, São Paulo, 1952.
Rumos de um teatro popular. Dionysos, Rio de Janeiro, v. 5, 4, julho de 1954.
Folia de Reis. Manchete, Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 1964.
* Transcritos na dissertação de: MELLO, Maurício de.. O encontro da cultura popular e os meios de comunicação na obra de Solano Trindade - Os Anos em Embu das Artes (1961-1970).. (Dissertação Mestrado em Ciências da Comunicação). Escola de Comunicação e Artes - Universidade de São Paulo, USP, 2009, p. 83-87. Disponível no link. (acessado em 6.5.2015).

Antologias (participação)
Antologia da nova poesia brasileira. [organização J.G. de Araujo Jorge]. Rio de Janeiro: Editora Vecchi, 1948.
Violão de rua – poemas para a liberdade. vol. III. [organização Moacyr Felix]. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.
20 poemas. in: Veredas - revista de letras da Universidade de São Paulo, nº 1, setembro de 1979.
A razão da chama: antologia de poetas negros brasileiros. [organização Oswaldo de Camargo].São Paulo: Edições GRD, 1986.
Antologia da poesia negra brasileira: o negro em versos. [organização Luiz Carlos dos Santos; Maria Galas e Ulisses Tavares]. Série lendo e relendo. São Paulo: Moderna, 2005.
Poesia negra brasileira antologia. [organização Zilá Bernd]. Porto Alegre: AGE; IEL; IGEL, 1992.

Poemas musicados e gravados
Mulher barriguda. integrou o disco do grupo 'Secos & Molhados' (1973).
Tem gente com fome. gravado por Ney Matogrosso, no LP 'Seu tipo' (1979).

Os livros lançados por ele foram: “Poemas de uma Vida Simples”, 1944, “Seis Tempos de Poesia”, 1958 e “Cantares ao meu Povo”, 1961. Como ator, participou dos filmes “Agulha no Palheiro” (1955), “Mistérios da Ilha de Vênus” (1960) e “O Santo Milagroso” (1966).

Links sobre Solano Trindade:
https://www1.leiaja.com/…/historias-para-resistir-bienal-h…/
http://www.letras.ufmg.br/…/905-solano-trindade-gravata-col…
https://www.geledes.org.br/solano-trindade/
http://www.museuafrobrasil.org.br/…/2…/12/30/solano-trindade

Créditos da imagem:
http://www.elfikurten.com.br/2015/06/solano-trindade.html


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