segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Mês da Consciência Negra - leituras, reflexões e belezuras literárias (12)

Mês da Consciência Negra - leituras, reflexões e belezuras literárias (12)

Neste mês de novembro/2019, 
em celebração ao Mês da Consciência Negra,
o blog Construindo Pasárgada do PMBFL compartilha 
uma série de postagens publicadas no bom dia do face do
Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores.
Trazemos a Literatura, biografia, sites e vídeos 
de Escritoras e Escritores Negras/os
para promover leituras, reflexões e belezuras literárias.
Tentamos priorizar Poetas de Pernambuco.

Cristiane Sobral
O bom dia do último dia do mês da Consciência Negra apresenta a escritora poeta Cristiane Sobral.

Cristiane Sobral, quem é ela?

Cristiane Sobral nasceu na zona oeste do Rio de Janeiro, no bairro Coqueiros, em 1974 e hoje mora em Brasília. Entre 1989 e 1998, teve como prioridade sua formação profissional. Iniciou as atividades artísticas em 1989, no Rio de Janeiro, em um curso de teatro do SESC, encerrado com o espetáculo “Cenas do Cotidiano”. Um ano depois chega a Brasília e começa a atuar em grupos de teatro no ambiente estudantil e monta a peça “Acorda Brasil”. Aos dezesseis anos ingressa no Ensino Superior, e torna-se a primeira atriz negra a se formar em Interpretação Teatral pela Universidade de Brasília.
A partir de 1999, a autora iniciou sua nova fase, dedicando-se à atuação profissional, envolvendo-se com temas sociais. Destaca-se sua atuação no curta metragem “A dança da Espera”, de André Luís Nascimento; no vídeo “A carreira e formação do diplomata”, de André Luís da Cunha, e ainda, a apresentação do Programa televisivo do PT para o GDF. Atuou também na peça “Machadianas Cenas Cariocas”, dirigida por Ginaldo de Souza em 2001. Protagonizou e concebeu os espetáculos: “Uma Boneca no Lixo”, premiado em 1999 pelo Governo do Distrito Federal e dirigido por Hugo Rodas; “Dra. Sida”, premiada pelo Ministério da Saúde em 2000 e no I, II e III Ciclo de Dramaturgia Negra realizado em Brasília e Porto Alegre.
Foi em 2000 que Sobral vinculou-se aos meios literários, quando iniciou sua participação na publicação Cadernos Negros, a partir do volume 23. Escreveu, durante algum tempo, uma coluna sobre crítica teatral para a revista brasiliense Tablado.
Em 2003 esteve no palco do Instituto Camões da Embaixada de Portugal em Brasília, onde homenageou Castro Alves e Joaquim Manuel de Macedo no projeto Herança da Literatura Brasileira com os espetáculos “Eu Sou Marabá” e “Brasil Negreiro”. Neste mesmo ano, ofereceu cursos de expressão na agência de modelos Scouting.
Em 2004, participou do recital “Oi Poema”, organizado por vários poetas e realizado pelo Ministério da Cultura como parte do projeto “Fome de livro, sede de poesia”. Além disso, formou atores para a Cia de Teatro Brenda Kelly, e consolidou o trabalho de direção do grupo teatral Cabeça Feita, fundado em 1999, composto por atores negros também graduados pela Universidade de Brasília. O mais novo espetáculo do grupo, “Petardo, será que você aguenta?”, esteve em cartaz em maio de 2004 no “Nacional Cine Teatro”, de Luanda, em Angola. Em junho, “Petardo”, cujos textos são de sua autoria em parceria com Dojival Vieira, estreou em Brasília. Nesse mesmo ano, atuou em “Ajala, o fazedor de cabeças”, que também conta com textos de sua autoria.
A autora já realizou diversos trabalhos em teatro, vídeo, televisão e cinema. Atualmente, concluiu uma Pós-Graduação em Educação, com ênfase para o ensino das artes. No início de 2005 foi convidada a ingressar uma Antologia sobre o negro no Brasil que está sendo organizada pela Editora Moderna e tem previsão de lançamento para este mesmo ano. Para divulgar aquilo que escreve, tem interpretado textos em cidades como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. Desde 1998, trabalha como Assessora de Cultura para a Embaixada de Angola.
Fonte: http://www.letras.ufmg.br/lite…/autoras/203-cristiane-sobral.

Poesias de Cristiane Sobral:
A infância, onde mora?

A menina
Cristiane Sobral

A menina que mora em mim
Há muito tempo não me visita
Está assustada dentro de mim
Escondida em algum lugar

A menina ficou perdida
Em meu labirinto de realizações
Derrubei as árvores do seu brincar
Não deixei vista para o mar

Sinto saudades da menina que mora em mim
Preciso de sua delicadeza
Da pureza e da alegria nos seus lábios

A menina que mora em mim
Eu esperei quando fui deitar
Colocando rosas brancas nos olhos.

(Postado em 20 de junho/ 2016 por Cristiane Sobral.)


Pensando sobre a poesia

1. A poesia é arte, gesto, cura. A nossa ancestralidade grita, invadindo as páginas alvas, ousando inserir grafismos da negritude no cenário das letras.

2. Um bom poema dispara sua flecha certeira, a desafiar a palidez da paisagem canônica. Ao acertar o alvo, desperta um universo de reflexões, imagens e sensações no leitor.

3. a palavra deve desafiar os paradoxos da realidade, instigar os sentidos e mentes adormecidas.

4. Quando escrevo tomo posse de vozes ancestrais com muita história pra contar. Nossa gente tem memória, deve ter vez e lugar no universo literário.

5. O som das letras deve embalar e estimular as conexões cerebrais e provocar abalos a ponto de invadir o inconsciente, a sonoridade da poesia é porta de transformações e revoluções nas mentes.

6. Escrever é contar de novo, nas letras está um gesto avassalador, a empoderar os sentidos, libertar o inconsciente e mudar o estado das coisas.


Carma 
Cristiane Sobral

Esse moleque?
Vendia chiclete e bala
Vendia a alma.

O pai do garoto?
Comprava o diabo numa garrafa de pinga
Derramava desgraça na vida do menino
Aconselhava o guri
Com surras cheias de falta de respeito.

O avô do miúdo também vendia bala.
Bala de revólver...
Um dia deu um pirulito e sumiu no mundo
Enquanto a avó chupava fome.

E o menino?
Aprendeu a roubar, beber, matar e cresceu bandido
Até morrer num natal qualquer sem nunca ter visto árvore…
Nunca ganhou nenhum presente
Nem conheceu vida pior que a sua.



Legado
Cristiane Sobral

Quero a dignidade proclamada por Senghor
A sabedoria de Mandela
A lucidez de Martin Luther King
A contundência de Spike Lee
A forja nas letras de Paulina Chiziane

Mas também quero
A agilidade de João do Pulo
Os neurônios de Milton Santos
A ousadia de Zumbi

Quero aprender com Lima Barreto
Frasear com Solano Trindade
Entrar em cena com Ruth de Souza
Caminhar com Luiz Gama
Luiza Mahin, Antônio Cândido, Lélia Gonzáles

Quero sentar na soleira da porta
À entrada do nosso quilombo
Com Carolina Maria de Jesus conversar longamente
Falar por nossos ancestrais
Colocar o passado à nossa frente
Trazer de volta o que sempre esteve aqui
Tão longe e tão perto.

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